Como presentear um recém nascido
Dicas para quem vai visitar uma família que anda dormindo pouco e cansando muito
A partir do momento em que me tornei mãe, pessoas passaram a me procurar pedindo dicas para presentear bebês recém chegados ao mundo. A minha resposta varia sempre em torno de algo como “você tem intimidade com a família a ponto de perguntar o que eles precisam?”. Se a resposta é sim, pergunte, porque esse momento pede menos surpresas e mais pragmatismo.
A chegada de um bebê é linda e sublime nas telas do Instagram e do cinema, mas a rotina com um recém nascido envolve adultos cansados, casa bagunçada, poucas horas de sono e alguma saudade da vida lá fora.
Minha filha nasceu 15 dias antes do meu aniversário. Então, em novembro de 2022, no meu dia, eu estava em casa com uma bebê no colo, os peitos doloridos, corpo e mente exaustos, a pia cheia de louça e a casa bagunçada. Longe da família e dos amigos, eu era só cansaço e fragilidade.
Naquele dia, quando o entregador bateu palmas no portão e me deu um copo plástico de meio litro cheio de camadas de chocolate em diversas formas - creme, massa, farelos - eu chorei.
É comum chorar no puerpério e é, para mim, comum chorar no meu aniversário. Juntei as duas coisas e chorei de alegria comendo o bolo enviado pela minha amiga.
Foi um dos momentos mais incríveis daqueles primeiros dias de caos e desespero. É, até hoje, um momento que eu relembro com carinho imenso e admiração pela diva sensível que, a 900 quilômetros de distância, lembrou de enviar chocolate para uma mãe recém parida no dia do aniversário.
Um dia depois da chegada da minha filha, a minha mãe viajou esses mesmos 900 quilômetros para passar algum tempo com a gente. Quase todas as roupinhas, paninhos, cobertas que minha filha ganhou antes de chegar ao mundo, foi minha mãe quem deu. Os presentes se misturam a outros, de amigos, parentes, e eu já não sei mais quem escolheu o quê. Muita coisa se perdeu, muita coisa já não serve mais.
Mas eu não esqueço daqueles primeiros minutos dentro de casa outra vez, depois de chegar da maternidade. Sentei na poltrona para tentar amamentar - eu ainda estava aprendendo - e minha mãe me entregou uma caneca de chá, desses que ajudam “o leite a descer”. Eu lembro do calor da caneca e do sabor do chá, adoçado com mel.
E jamais vou esquecer do dia em que minha prima me lançou um olhar que dizia “confia”, pegou a minha neném no colo e acalentou até ela adormecer nos braços que não eram os meus. Naquele dia, eu tomei café sozinha - e despreocupada - pela primeira vez e chorei emocionada. O puerpério, eu disse, faz isso.
Então, quando me perguntam sobre presentes para bebês pequenos, eu lembro da importância de presentear a mãe, ou a família. Pode ser um bolo, um vale massagem ou manicure (de preferência com alguém que vá até a casa fazer o serviço), uma louça lavada, um chá e algum tempo de conversa. Pode, sim, dar roupinhas, sapatinhos, panos, fraldas. Talvez, esses itens se acumulem numa pilha que pequenas peças, todas presentes dos últimos meses, muitas que serão usadas uma ou duas vezes.
Mas a presença, o cuidado e o carinho a mãe não vai esquecer. Eu juro.
(E uma mãe bem cuidada é o melhor presente para um bebê).
A minha filha nasceu em Fevereiro. O melhor presente que família e amigos me têm dado é mesmo comida: a lasanha da minha nora, a bolonhesa do namorado da minha amiga, o frango com arroz do irmão do meu cunhado.