Hoje eu fui numa cafeteria e deixei meu celular em casa. Há anos mantenho, não com tanta facilidade, o hábito de sair de casa sem o celular. Uma corrida no parque, a caminhada até a escolinha da minha filha, a ida até o pet shop para comprar ração.
Agora, decidi estender esses limites e não levar o celular para lugares em que, normalmente, eu levaria. Um café sozinha, por exemplo, porque, estando sozinha, seria óbvio ter o celular em mãos enquanto espero meu pão na chapa.
E esse foi o primeiro desafio da experiência. O que eu posso fazer enquanto espero? O que costumávamos fazer enquanto esperávamos?, pensei, com os olhos meio perdidos, vagando pela decoração da cafeteria.
Agora mesmo, escrevo este texto enquanto aguardo a resposta de uma entrevistada, porque decidi deletar o aplicativo do Instagram. Quando quero usá-lo, baixo outra vez. Dá um pouco de trabalho, mas a ideia é essa. Driblar o impulso de abrir a rede social diante de qualquer brecha de distração.
Sem celular, sozinha na mesa de um café, me restou observar as pessoas ao redor, quase todas com seus celulares em mãos. Uma moça fotografou o capuccino, outra gravava áudios, um homem rolava o feed de alguma rede social. E lembrei da mensagem que precisava mandar para um amigo e, no impulso, puxei a bolsa para pegar meu telefone e, agora, neste texto, me parece engraçado usar a palavra telefone para não repetir, mais uma vez, celular. Fazer ligações é uma das funcionalidades menos usadas daquele aparelho que me ajuda a chegar a lugares, comprar livros, pedir comida, ler notícias, mandar fotos da minha filha para a família e receber informações inúteis sobre pessoas que eu não conheço enquanto sou bombardeada com promoções de produtos que não preciso comprar.
Meu amigo estava a caminho da minha casa e eu esqueci de avisá-lo que sairia para um café. Talvez ele chegasse e tivesse que esperar uns minutos. Mas eu acho que, antigamente, a gente esperava. Desencontros aconteciam e, impossibilitados da troca de mensagem em tempo real, fazíamos hora conversando com o porteiro, dando uma volta no quarteirão, brincando com o cachorro de um vizinho.
No café, prestando atenção a duas amigas que conversam e bebem suco, entre risos e gargalhadas, entendo que o que me incomoda no celular é o fato de ele me roubar tempo ocioso. E o modo como nossa forma de comunicação, hoje, está acomodada com a disponibilidade. Mas estar disponível no celular significa estar distante do mundo ao redor.
Sinto que, cada vez mais, estamos nos dando conta dessa cilada.
Desde que percebi isso, tento usar o Whatsapp da forma como usávamos um orelhão de fichas, como se o próximo contato só fosse acontecer depois de uma semana. Como se, para falar de novo, eu precisasse comprar fichas e caminhar por cinco quarteirões até o açougue da esquina. Então, eu elaboro a mensagem e passo todas as informações. Sem pendências, como se o tempo do outro fosse tão importante quanto o meu. Ninguém precisa olhar de cinco em cinco minutos para uma tela luminosa em busca de respostas.
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Eu comecei este texto em dezembro de 2024. Não consegui concluir. Passei dias longe da cidade, perto da minha filha e dos meus pais, com pouco uso do Instagram. Em uma semana, li três livros. Era recesso e eu estava de folga, vale dizer. Mas, mesmo agora, de volta à rotina de trabalho, tenho lido mais. O Instagram segue fora do meu aparelho e apareço por lá de vez em quando, mas toda vez que abro o aplicativo, sinto uma pequena angústia. Eu sei que aquilo não me faz bem. Twitter eu já não usava há algum tempo. O Whatsapp continua sendo a rede mais usada por aqui.
Entrei em 2025 com as promessas de estar mais presente na rotina dos amigos, ser uma leitora mais comprometida e escrever mais. Tem dado certo, mas ainda é dia 20 de janeiro. Espero não ter os planos arruinados pela próxima rede social.
Enquanto isso, sigo bebendo café e olhando para o nada. Espero que você também faça isso de vez em quando.
Amo seus textos, Carol... a simplicidade que você transmite algo que muitas vezes já estava transitando na minha mente. Aqui sigo tentando desapegar das redes também. Que consigamos sempre vencer essa onda que engole a gente. Bjs!
Apaguei a conta do Twitter sem arrependimento, BlueSky em dias comuns consigo passar o dia sem olhar; Instagram uso pouco (porém mais do que gostaria). Ainda assim, falta a coragem de sair de casa sem o celular. Farei o teste qualquer dia.